Nada funciona da maneira como se apresenta
Lilia Moritz Schwarcz com Flávio Cerqueira
Introdução: das vantagens do trabalho coletivo
Dizem que todo projeto artístico e intelectual, sério, é sempre coletivo. Pois bem, essa é a realidade e a qualidade do trabalho que Flávio Cerqueira e eu desenvolvemos, conjuntamente, desde que nos conhecemos nos idos de 2016. Naquela ocasião, ele me convidou para ver sua segunda exposição na Galeria Triângulo. O nome da mostra era “Se precisar conto outra vez” e a sensação restou combinada com o mais puro maravilhamento.
Lembro de ter anotado no caderno, que trago sempre comigo: “a dança do bronze com as figuras cotidianas e negras vira de ponta-cabeça uma certa história da arte que reservou este tipo de material nobre apenas para as figuras proeminentes da história; não por acaso políticos, religiosos, empresários … todos brancos e homens. Agora são pessoas negras que contam de suas vidas e inauguram narrativas próprias”.
Pois Flávio Cerqueira retoma a tradição da cultura figurativa presente nas esculturas e a traduz no sentido de incluir nela uma outra tradição. Muito vinculado a uma certa história ocidental, o gênero se voltava, sobretudo, para a celebração, no sentido de exaltar figuras, em geral brancas, que tiveram protagonismo dentro desta mesma narrativa. Já o artista paulistano, seleciona pessoas que observa no dia a dia, imersas em seu próprio cotidiano e as eleva no bronze. De dentro do transporte público ele anota traços, repara nas roupas, radiografa suas ocupações. Como costuma dizer: faz objetos escultóricos “com o cara do bar, do buzão”, com a moça que anda na rua, com o garoto distraído, com a menina sonhadora.
O escultor gosta de explicar que não cria retratos, cria personagens fictícios e assim cria experiências e histórias. Segundo ele, “escultura é como um instante pausado do filme”; é repertório de vida que ele começa a narrar, mas o espectador é quem coloca sentido e cria o ponto final. Todos são, assim, coautores de significados.
Seus trabalhos não têm, porém, um viés “realista”, no sentido de se comportarem como um documento verista ou mesmo uma denúncia. É certo que eles falam de marginalidade: no sentido de flagrar personagens que em geral restam à margem. Mas o artista não se limita a vitimá-los. Há algo de sempre elevado nas figuras de Flávio Cerqueira. São personagens representados de maneira altiva, com respeito, quase de maneira filosófica. Lá estão o garoto negro soterrado por exemplares de livros dialoga
com a menina que olha distraidamente para o céu por meio de uma luneta; uma mulher com uma placa de Stop desafia o machismo de nossa sociedade enquanto um rapaz sobe aos céus dependurado em seus balões coloridos.
O tamanho destas esculturas também faz com que o expectador tenha certeza de estar em frente de uma “representação”; no sentido de uma re-apresentação. Elas têm uma dimensão um pouco diminuída em relação aos corpos humanos, o que, por outro ângulo, destaca o projeto imaginário que a obra como um todo carrega consigo.
Isso porque, a despeito de Flávio sempre declarar que procura pelo belo, em sua obra nada há de apenas e tão somente decorativo. Se a escultura tem que ser bela e agradar o olhar – “me ligo em coisas belas”, diz o artista – nenhum trabalho dele é exatamente aquilo que formalmente parece se apresentar. Um homem negro com seus olhos tem suas mãos queimadas por velas, numa relação que irmana ao mesmo tempo a dignidade da escultura com algo contraintuitivo, uma sensação de desconforto. O trabalho se chama Em memória de mim (2017) – com o título da obra já revelando o tanto de apagamento que existe em nossos arquivos coloniais. Sobre tudo mas não sobre qualquer coisa (2016) traz um rapaz que picha as paredes, com as fontes que remetem a essa prática, mas deixa claro que o que é lúdico não se limita a isso. Não é “sobre qualquer coisa”. Por sinal, o artista é mestre nos títulos que dá às suas obras, não limitando, mas conferindo um primeiro sentido às esculturas.
Por essas e por outras, que o primeiro encontro que tivemos, eu e Flávio, indicava apenas o começo de uma trajetória de mais longo curso. De lá para cá, já fizemos muitas exposições conjuntas, e cito apenas algumas. Da primeira vez nos reencontramos nas salas do Masp, na exposição Histórias afroatlânticas, de 20181, quando a obra Amnésia virou um cartão-postal desta mostra coletiva. Apresentada no centro de um salão, e em meio a uma seção dedicada a “retratos”, a escultura apresenta um rapaz que derrama tinta branca em seu corpo, sem que ela, de fato, aderisse nele. Aí estava uma espécie de síntese desta mostra que pretendia incluir histórias e memórias por demais silenciadas por uma narrativa de matriz muito europeia.
O mesmo destaque, conquistado a partir da importância da obra, ocorreu na mostra chamada Contramemória que ocorreu no Theatro Municipal de São Paulo, em 20222. A
1 Histórias Afroatlân/cas. Masp, 2018. Curadoria de Adriano Pedrosa, Airson Hieráclito, Helio Menezes, Lilia Moritz Schwarcz, Tomás Toledo.
2 Contramemória. São Paulo. Theatro Municipal. 2022 Curadoria de Jaime Laureano, Lilia Moritz Schwarcz e Pedro Meira Monteiro.
exposição realizava uma releitura do modernismo no próprio “palco” onde foi realizada a famosa “Semana de 22”. Era a primeira vez que o espaço era aberto para este tipo de atividade, ainda mais com uma carga claramente crítica. Afinal, questionava-se não só a artificialidade do edifício neoclássico e de feições europeias, localizado no centro cada vez mais remediado de São Paulo, mas também os processos de exclusão presentes durante aquele primeiro evento. Pois bem, por lá, Tião (2017) afrontava o público, com seu olhar digno, a despeito de mascarado, e o corpo cravejado de balas – numa alusão a São Sebastião. Era mais uma vez o efeito de “duplo” que chamava a atenção do público. Nada é o que realmente se vê, e era preciso olhar de frente e de trás para notar as mãos violentamente amarradas do personagem.
Na Galeria 132, durante a exposição Outros 22, também realizada em 2022, um índio com sandálias havaianas nos pés – O glorioso retorno de quem nunca esteve aqui (2016) – saudava e “incomodava”, com seu bodoque na cintura, os participantes mais desavisados, indicando uma nova direção a seguir. Com efeito, indígenas são constantemente apagados das memórias nacionais como se estivessem apenas sujeitos ao desaparecimento. Com certeza não estão.
No ano de 2024, na exposição Direito à memória: arte afro-brasileira e indígena, e outros modernismos, realizada na Casa Zsalszupin em São Paulo, eram duas as obras de Flávio por lá expostas. Aliás, nesta última ocasião, pedi a ele que me ajudasse a incluir duas esculturas da sua autoria naquele espaço que de íntimo – e pertencente à família do famoso arquiteto – transformava-se em museu público, e aberto aos convidados.
Foi dele a sugestão de trazer para a mostra Na medida do impossível (2014) e João sem braço (2018). Era como se Flávio incluísse a síntese e a antítese de seu trabalho: o belo em diálogo com o estranho. O jardim da casa modernista foi tomado pela poesia discreta das esculturas do artista, com um garoto espalhando bolhas de sabão.
Não havia quem deixasse de admirar a obra pela narrativa que trazia: ao invés do triste, do perseguido, do violentado, o escultor devolvia a forma lúdica, o prazer, a diversão. Mas havia outro trabalho do artista que pedia por outro tipo de atenção do público. Nele, um garoto sem braços de alguma maneira destacava este caráter coerente da obra de Flávio: nada é tão simples como assim se apresenta. Aliás, esse foi o primeiro trabalho do artista e aquele que marcou seus “começos”.
Pois bem. Gostaria de voltar àquele dia 9 de março de 2024. Chegamos, os dois, pontualmente para a abertura da exposição. E como pude logo notar, a primeira visita guiada seria dele – e não minha. Grande orador, lá estava Flávio no meio de uma roda,
que logo se formou em torno dele, falando de sua primeira viagem à Europa e de como, ainda jovem, acabou achando que criar esculturas sem braços era “uma tendência”: brincava ele.
Pois Flávio Cerqueira é assim, fala de si mesmo e de sua obra com carinho e ironia, sem autopiedade, e com a agilidade e erudição de quem controla sua produção e carreira. Foi assim com a sua formação, foi assim com o desenvolvimento de suas obras e também é assim com a trajetória firme que vai tomando sua carreira nacional e internacional.
Os olhos vazados, os corpos bem-feitos, os cabelos detalhadamente esculpidos, as figuras como vetores de narrativas … tudo na obra de Flávio namora com o belo e entrega o inesperado.
Uma biografia da margem e do bronze
“Vou ter que falar disso”? No vídeo feito em homenagem à sua obra – “ Algo no espaço – Flavio Cerqueira “ – é dessa maneira que Flavio reage à pergunta sobre a sua infância.
Por mais que o artista desfaça deste tipo de biografismo, muitas vezes fácil, é inegável a maneira como a experiência pessoal dele se vincula de maneira desavisada à obra como um todo.
Flávio nasceu na Vila Maria, em São Paulo e depois mudou-se e cresceu no bairro dos Pimentas, em Guarulhos. Sua arte foi aparecendo devagar e na paciência do tempo da maturidade. Ele primeiro fazia esculturas com Durepox; o material era mais barato e suficiente para o garoto se exercitar na técnica.
Chegada a hora de escolher uma faculdade, Flávio, que sempre recorda de como como foi ganhando seu repertório artístico de maneira solo e muito pessoal, começou pensando em cursar arte industrial. Logo notou, porém que essa não era exatamente a atividade que visionara para seu futuro.
Como a vida muitas vezes se desenrola na base da coincidência, foi quando assistiu um programa na televisão sobre o artista Vik Muniz, que entendeu um pouco melhor o que era o universo das artes plásticas e mais particularmente da escultura. Logo pensou: “é isso que quero pra mim!”.
Tentou, então, entrar na Faap. Mas o curso era caro demais para quem, como ele, vendia material elétrico nas ruas do bairro do Brás, em São Paulo. Deixou o plano do curso superior um pouco de lado, até que, voltando para casa de metrô, deparou-se com
uma propaganda no jornal Metronews. Ela se referia à Escola Paulista de Artes, cujo valor da mensalidade era não só menor como podia ser pago até o 5o dia útil de cada mês. Flávio animou-se e resolveu encarar.
Se foi ganhando ossatura e técnica na universidade, Flávio nunca esqueceu do gap que se estabelecia entre as artes visuais que ele passava a conhecer e dominar, e as pessoas que, como ele, e até então, nunca acompanharam, se interessaram, entenderam ou acharam que esse universo lhes dizia respeito.
Filho de uma família de classe operária, Flávio se orgulha quando lembra que sua mãe trabalhava numa casa de família e seu pai um metalúrgico, e, mais, que nunca entraram em um museu. Recorda ele como a Pinacoteca, por exemplo, era um lugar em que, como menino, via de longe, sempre pensando que aquele local não lhe pertencia. Entrou na instituição pela primeira vez quando da realização, em 2002, da exposição sobre a obra do escultor francês Auguste Rodin. Contou que tocou em uma obra e ouviu o barulho oco de seu interior. O som lhe lembrou o tilintar de um sino. “É metal” disse consigo mesmo. E pensou: “quer saber …. vou fazer como esse cara aí”.
Foi então que começou este embate interior, e que resultou numa obra na base do bronze, mas que segue a ideia de ser, nas palavras do artista, “legível para qualquer um”. Começou seu trabalho profissional em 2009 e desde então, conforme suas palavras, está mergulhado nesta arte: trabalha, segundo sua própria definição, com o processo tradicional de escultura e da fundição.
Sua formação se deu na prática, em uma fundição localizada na cidade de Piracicaba – a Fundiarte –; local em que aprendeu vendo e trabalhando junto com os profissionais do estabelecimento. Tanto que a Fundição virou seu segundo ateliê e já são 20 anos de trabalho conjunto. Por lá ele molda com cera, esculpe e funde suas peças.
Bronze é liga de materiais: 85% de cobre, e mais estanho e chumbo. O cobre , por sua vez, é um metal avermelhado que potencializa a cor que Flávio imprime em seus trabalhos, além de ter a maleabilidade necessária para o escultor produzir forma e subjetividade em seus trabalhos. O paradoxo deste tipo de material é que, enquanto o bronze, quando pronto, é um componente sólido e rijo, durante o processo de elaboração dos trabalhos ele é tremendamente moldável.
E é assim, que Flávio combina técnica com projeto: se o bronze nasceu para se eternizar e dar espaço para uma arte que se pretende perene, já no caso do artista, é o caráter adaptável e durador do material que o inspirou a investir e se desenvolver neste tipo de arte.
O conjunto de trabalhos parece se comportar, pois, como uma partida travada entre a solidez e a adaptabilidade. Ou seja, no processo de confecção das obras, o móvel vai virando rígido, com o artista se convertendo num escultor de significados.
E Flávio Cerqueira foi se familiarizando como a técnica. Como ele gosta de explicar, trata-se de combinar uma série de ligas metálicas que tem como base o cobre e o estanho, bem como proporções variáveis de elementos como zinco, alumínio, antimônio, níquel, fósforo, chumbo, entre outros, que cumprem a função de obter características superiores às do cobre.
O processo de fundição funciona, real e metaforicamente, como se a união de várias ligas de alguma maneira disfarçasse aquela matéria que resulta da origem comum: o cobre. Segundo Flávio, foram os próprios ferreiros que, no passado, logo notaram de que maneira a utilização do cobre acabava sendo inviável, devido não só à alta procura e o decorrente preço elevado do produto, como em função da pouca durabilidade. Por sua vez, a mistura de ligas não só amplificava o volume do material, como garantia sua viabilidade comercial.
Tal “união” ganhou o beneplácito da história, uma vez que o próprio material, de tão essencial, ofereceu a origem material para um período da história, conhecido como Idade do Bronze, cujo início se deu no Oriente Médio em torno de 3300 a.c. Dele eram feitas as ferramentas, as armas de guerra, os utensílios domésticos, e, também, as estátuas grandiosas dos mandantes. O bronze também permitia a manipulação com vistas a se conseguir diferentes cores, que iam do amarelo ouro até o avermelhado.
A popularidade era o resultado, portanto, da beleza do material misturada com a resistência estrutural que a liga alcançava bem como o preço mais accessível. Além do mais, a maleabilidade na hora da fundição potencializava o acabamento, permitindo o melhor polimento e a própria durabilidade das peças. Expressões como “duro como o bronze” dizem respeito ao caráter estável e não sujeito à corrosão atmosférica do material, e também a seu perfil mais nobre. Como sabemos, o valor de um material não é apenas racional. Há sempre uma lógica simbólica embutida neste cálculo pretensamente objetivo.
E essa foi a história do bronze que, com o tempo, de matéria prima de uso mais disseminado, se converteu em substância e técnica que ornava as próprias elites que viam nela a garantia da perpetuação de suas figuras no tempo e no espaço.
Mas o aspecto talvez mais destacado do bronze é sua maleabilidade. Como vimos, durante o processo de fundição, o material é fluido, quando aquecido a 1300 graus. O
belo neste processo é que, até que vire bronze, o artista tem tempo de procurar imprimir a forma ideal. A escultura se faz, portanto, na ação.
Foi, portanto, unindo as possibilidades da técnica com a imaginação do artista que Flávio, tirou o bronze “do pedestal” para devolvê-lo ao cotidiano.
Poética Flávio Cerqueira
Uma obra como essa, que se faz em processo e do processo, não tem compromisso
com agenda fechada. Ao contrário, a própria visão de Flávio parece ir se alterando com o tempo de janela que seu trabalho carrega consigo.
Se seus primeiros trabalhos, como Foi assim que me ensinaram (2011), mostram um menino sentado por sobre livros, mas com um chapéu de burro, como se estivesse de castigo e olhando para uma quina vazia; já em Uma palavra que não seja esperar (2018) uma moça orgulhosa caminha por firme com seus livros na cabeça. Entre a ideia do conhecimento como um objeto quase que externo e o pensamento como um domínio pessoal, a obra cresceu, mas se modificou também. Se na primeira escultura o ensino parece distante, na segunda não há “espera” que dê conta da urgência da inserção social. Entre o corpo curvado e cabisbaixo de Ex Corde, de 2010, e a escultura confiante de 2020 Better together, muita coisa aconteceu na própria trajetória interna de Flávio, com sua narrativa e poética se alterando.
Dos seus inúmeros trabalhos, talvez o que o “marque” de forma mais definida seja Onde tudo acaba em mim (2021). Como ocorre em alguns trabalhos de Flávio, persiste um ruído entre a parte de trás e a da frente da obra. Visto numa perspectiva frontal vemos um rapaz que parece estar relaxado, olhando filosoficamente para a frente, com seu chinelo confortável nos pés, e uma bermuda que contracena com seu corpo nu. Os cabelos cacheados são detidamente trabalhados como se por um instante pudéssemos imaginar que com o vento eles ganhariam movimento.
Mas subsiste uma espécie de incógnita na lâmpada que o rapaz traz em uma de suas mãos e a bússola que carrega na outra. É como se procurasse por algo ao longe. E é por detrás que se completa a figura. O rapaz negro traz um imenso X nas costas. Pois se todos os trabalhos dialogam com a biografia de seu autor – sem que se limitem a ela – este talvez seja o que mais de perto diga respeito à uma noção que funda e estrutura esta obra escultórica. A ideia de que ele é o começo e o término de seus trabalhos.
Afinal, é o rapaz negro que é o alvo – para o bem e para o mal. É também aquele que, visto pela frente, agrada e apazigua, mas cuja representação do X nas costas
incomoda pela realidade que escancara. O X pode se referir ao alvo humano, com as pessoas negras sendo constantemente assediadas pela polícia. No entanto, numa visão mais poética e autorreferida, o X pode ser também o que se procura. “Você é o que você procura”, diz Flavio. Ou “tudo começa e termina em mim. Eu sou o começo e o fim da história”, conta ele.
A obra de Flávio Cerqueira busca universalizar sentimentos particulares, sem nunca perde o sentido do particular. Como define o artista: “mesmo se for transcendental eu sou o alvo, sou o alvejado também.
No limite, Flávio é um otimista pragmático. Diz ele que “coloca muita energia” em suas obras: “eu tô ali me dedicando, fazendo a parada, e ela volta pra mim”. Como o menino marcado, também o trabalho deste artista, procura por vidas que não são as dele, mas se voltam para ele.
“Eu vi o mundo e ele começa dentro de mim. Tudo só depende de mim”. “Se você pensar em coisas boas, o universo traz de volta”.
E assim é a arte deste “escultor de significados” sempre em busca constante por experiências distintas, sempre na procura de novos sentidos. Pensando nestes termos, é possível dizer que Flávio Cerqueira continua fugindo de ser o alvo, e prefere ser mesmo “o tesouro” escondido no final do arco-íris.
Como o rapaz que sobe em balões amarelos e vermelhos sob o Pretexto para te encontrar (de 2013); como a menina que toma um Atalho para a Liberdade (de 2019) e deixa que bexigas azuis suspendam seu corpo a partir da elevação de seu cabelo, também Flávio busca de maneira incessante por sua autonomia filosófica cuja expressão se faz a partir da maleabilidade do cobre combinada com a perenidade do material e a eterna subjetiva das figuras que seleciona esculpir e assim narrar uma história.
Todas as suas esculturas são feitas da subjetividade moldável e da realidade dura e enrijecida. Na forma do provérbio: “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”.